Signal dá-te privacidade e saúde mental

Actualizado: 21/06/2025

Publicado: 12/06/2025

A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece no artigo 12 que ninguém deverá ser sujeito a interferências arbitrárias com a sua privacidade, e que todos têm direito à proteção da lei contra tais interferências. As massas, no entanto, menosprezam fortemente a sua privacidade. Devem seguramente achar que a manipulação comportamental, o roubo de informação, os abusos e ameaças, os problemas de saúde mental ou as fraudes resultantes da sua actividade online são fruto do acaso, quando na verdade são a sua iliteracia tecnológica e distorção de valores as principais causas.

No mundo online, a privacidade de excelência é tipicamente conseguida por meio de criptografia, nomeadamente encriptação ponta-a-ponta (end-to-end encryption, em Inglês). Por exemplo, uma aplicação de mensagens correctamente encriptada ponta-a-ponta garante que só o emissor e o receptor de uma mensagem têm acesso (nos seus dispositivos) ao seu real conteúdo. O que passa pelos servidores da empresa detentora da aplicação são os conteúdos encriptados, ou seja, um código de letras, números e símbolos que apenas o emissor e o receptor conseguem decifrar, pois só eles têm a chave de desencriptação. Uma boa aplicação encriptada não encripta apenas os conteúdos partilhados, mas também os metadados. Metadados são informações sobre os dados, que no caso de uma mensagem podem ser, por exemplo, informação identificável sobre o emissor e receptor, data e hora do envio/entrega/leitura, ou tipo e tamanho dos ficheiros enviados. Os metadados são, muitas vezes, informação mais sensível que o próprio conteúdo da mensagem.

Naturalmente que só se poderá concluir quanto à qualidade de um software, no que respeita à segurança e privacidade, se esse for de código-aberto. Dessa forma, qualquer especialista em programação web poderá analisar o código e reportar/denunciar eventuais problemas relacionados quer com bugs, quer com alegadas funcionalidades que na realidade não passam de uma (desonesta) estratégia de marketing. Com o aumento da popularidade de um produto, qualquer discrepância grave entre o produto real e o que de bom sobre ele é alegado nos media, seria prontamente noticiada.

Encryption makes people powerful (2024).

A app/protocolo Signal, os quais são open-source, permitem comunicação privada (mensagens e chamadas), inidividual ou em grupo, e são propriedade de uma fundação independente sem fins lucrativos, a Signal Technology Foundation. A mesma foi fundada por Brian Acton (co-fundador do WhatsApp) e Moxie Marlinspike (cientista em cibersegurança e co-criador do protocolo/app Signal), sendo a sua missão o desenvolvimento de tecnologia acessível a todos e focada em privacidade e liberdade de expressão. O Signal vive de doações, e recentemente discriminaram os seus custos e estimaram necessitar de cerca de 50 Milhões de USD para operar em 2025 (1).

O serviço/protocolo Signal foi concebido para minimizar a informação colectada sobre os utilizadores, sendo que nos servidores da empresa apenas são guardados dois tipos de informação sobre qualquer utilizador (cujo único identificador é o nº de telefone usado para se registar no Signal): a data e hora de registo na aplicação, e a data e hora da última conexão ao serviço Signal (2). Tudo o que é privado deve ser guardado offline/localmente, e é dessa forma que são guardados os conteúdos da tua app Signal – apenas no dispositivo onde a app está instalada.

Os fundadores do WhatsApp, Brian Acton e Jan Koum, decidiram em 2017/2018 deixar a empresa Facebook (que adquiriu o WhatsApp em 2014), por discordâncias com as políticas da empresa relativamente ao uso de dados dos utilizadores. A actual presidente do Signal é Meredith Whittaker, a qual trabalhou 13 anos para a Google antes de em 2018 organizar o Google Walkouts, um protesto que mobilizou mais de 20000 empregados em todo o Mundo contra a cultura da empresa sobre conduta sexual e vigilância do cidadão.

 Fonte: Conta do Signal no Twitter (arquivo).

No Signal, a privacidade é garantida por encriptação ponta-a-ponta, tanto dos conteúdos das mensagens e chamadas como dos metadados associados – ao contrário do WhatsApp, que alegadamente utiliza o protocolo Signal mas a aplicação não é de código-aberto e sabe-se que não encripta os metadados (3). Além disso, alegadamente se uma mensagem no WhatsApp for denunciada à Meta (e.g, por se considerar abusiva), os respectivos moderadores conseguirão desencriptá-la (4). Em 2020, a Comissão Europeia recomendou a utilização do Signal pelos seus funcionários, em detrimento do WhatsApp, Messenger ou iMessage (5).

Mas a privacidade do Signal vai ainda mais além. Desde o final de 2023 foi acrescentada uma nova camada de segurança ao protocolo Signal, a chamada resistência quântica (6), a qual assegurará que mesmo a colossal potência dos computadores quânticos não será suficiente para quebrar a encriptação ponta-a-ponta.

Pode usar o Signal no telemóvel e no computador, sendo que deve sempre primeiro instalar e registar-se na aplicação móvel. Para ter a certeza que está a instalar a app correcta, utilize este endereço: https://signal.org/pt_PT/download. Se tiver dúvidas, pode falar comigo ou seguir as orientações em https://support.signal.org. A partir do momento que o Signal para computador (Signal desktop, em Inglês) estiver operacional, todas as mensagens e chamadas serão sincronizadas entre ambas as aplicações (móvel e para PC), o que é muito útil (i) como backup, (ii) para enviar ficheiros para o computador (e vice-versa), e (iii) para não estar tanto tempo “agarrado” ao telemóvel.

Importa ainda referir que, uma vez instalado o Signal para computador, este funcionará na perfeição mesmo que o seu telemóvel esteja offline ou desligado.

O Signal requer a utilização de um número de telemóvel para se registar no serviço, e irá receber um código por SMS nesse processo. No entanto, não será requerida qualquer informação pessoal (e.g, nome, email, morada, etc) associada a esse número.

Uma vez registado o seu número na app Signal para telemóvel, tem a possibilidade de ocultar o número do seu “perfil” e das pesquisas de utilizadores no Signal, bastando ir a Settings > Privacy > Phone number. Por outro lado, se não quiser partilhar o seu nº telemóvel para que alguém o contacte no Signal, poderá criar um usernamelink ou código QR para esse fim (saiba como neste link).

Qualquer aplicação só poderá ser usada no máximo do seu potencial se o utilizador analisar ao detalhe as suas definições. No Signal terá acesso a elas se tocar na imagem do seu perfil no telemóvel (ver imagem), ou se for à roda dentada ou a File > Preferences no computador. São especialmente importantes as definições de conta, de dados e armazenamento, e de privacidade. 

Fonte: Signal Support (arquivo).

Por defeito, a qualidade da media (e.g, imagens, vídeos) enviada não é máxima, como forma de reduzir o consumo de internet. Para alterar essa opção, basta ir a Settings > Data and storage > Sent media quality.

Sempre que alguém que não esteja nos seus contactos Signal lhe enviar uma mensagem ou tentar ligar, será notificado como se ilustra em seguida.

 Fonte: Blog do Signal (arquivo).

Qualquer mensagem escrita pode ser editada após ser enviada. E terá acesso ao histórico da edição se clicar na palavra Edited no canto inferior direito do balão da mensagem. A forma mais eficiente de editar uma mensagem no telemóvel é dar dois toques rápidos sobre o balão da mensagem. Pode também formatar texto, tendo acesso às opções disponíveis ao selecioná-lo enquanto escreve ou edita uma mensagem.

No Signal para Android (espero que implementem nos restantes sistemas operativos) pode agendar qualquer mensagem para o dia e hora desejados. Para tal, basta pressionar prolongadamente o botão de envio de mensagem até que lhe apareça um menú.

Na secção de chamadas da aplicação (para telemóvel ou computador) pode visualizar o histórico das mesmas ou criar um link para partilhar com os participantes de uma futura (vídeo-)chamada Signal.

 Fonte: Blog do Signal (arquivo).

Este é um contacto fictício (Note to self, em Inglês) sempre disponível na lista de contactos, o qual permite-o enviar mensagens a si próprio. Qualquer tipo de mensagem (documento, áudio, vídeo, imagem, link ou texto). Será muito útil para escrever informação a não esquecer ou transferir ficheiros entre o telemóvel e o computador.

Ao contrário das aplicações concorrentes das Big Tech, e segundo declarações públicas da presidente Meredith Whittaker (ver posts seguintes), o Signal não terá funcionalidades de inteligência artificial (IA) generativa. O que é perfeitamente credível, dado o seu percurso científico ligado aos perigos e problemas éticos da IA.

#Signal #IA #AI A presidente do Signal 💙, Meredith Whittaker, em resposta sobre se incorporará na app funcionalidades de inteligência artificial (IA) generativa, do tipo Meta AI (já no whatsapp), ChatGPT, etc: 1) “On the record, loudly as possible, no!” archive.ph/bpZLb 2) archive.ph/26jLD

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— Miguel Abambres (@abambres.bsky.social) June 27, 2024 at 3:31 PM

Use Signal. We promise, no AI clutter, and no surveillance ads, whatever the rest of the industry does. <3

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— Meredith Whittaker (@meredithmeredith.bsky.social) June 16, 2025 at 4:30 PM

1. Whittaker M, Lund J (2023). Privacy is Priceless, but Signal is Expensive. Signal blog. 📦

2. Signal Technology Foundation (2025). Government Requests. 📦

3. Perrigo B (2022). Signal’s President Meredith Whittaker Shares What’s Next for the Private Messaging App, Time. 📦

4. Kimball W (2021). WhatsApp Moderators Can Read Your Messages, Gizmodo. 📦

5. Cerulus L (2020). EU Commission to staff: Switch to Signal messaging app, Politico. 📦

6. Kret E (2023). Quantum Resistance and the Signal Protocol, Signal blog. 📦

Estou tão cansado de smartphones que em breve venderei o meu e comprarei um como o apresentado no próximo vídeo, desenvolvido pela empresa Suiça Punkt. Além de minimalista e focado em segurança, vem com o serviço Signal instalado (e o respectivo código é open-source).

Punkt’s MP02 4G minimalist phone.

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