Markdown: menos software, mais escrita
Microsoft Office e os seus problemas
O Microsoft Word é seguramente dos editores de texto mais usados globalmente. Originalmente pertencente ao pacote de aplicações Microsoft Office, actualmente pertence ao Microsoft 365. Estas aplicações sempre foram pagas e fechadas, ou seja o respectivo código de programação não é público. Sendo aplicações que funcionam offline, nunca tiveram grande controvérsia durante a maioria da sua vida. No entanto, a aumento do poder e domínio comercial da empresa proprietária (Microsoft) deveria colocar todos a reflectir sobre a necessidade de continuar a alimentar insustentável império.
O advento da inteligência artificial generativa e o lançamento do Windows 11 foram a gota de água, levando-me não só a abandonar o Office como também o sistema operativo Windows, pois passaram a estar inundados de inteligência artificial, nomeadamente através do Microsoft Copilot.
Mas há alternativas sustentáveis? Claro que sim, basta educarmo-nos e não ficar sentados à espera que o Estado, as escolas ou os mass media contribuam para a literacia tecnológica da sociedade. A sua incompetência e (principalmente) o lobbying das Big Tech continuarão com o papel principal ainda algum bom tempo. Em seguida apresento a minha recomendação para substituição do Microsoft Word na edição de texto, sendo que relativamente ao sistema operativo recomendo Linux, e se precisar mesmo de usar várias aplicações semelhantes às do Office, sugiro o pacote LibreOffice (gratuito, interface gráfica semelhante à do Office, open-source e 100% compatível com os formatos de documentos da Microsoft, p.e. DOCX, XLSX, PPTX).
Markdown
O Markdown, criado em 2004 por John Gruber, são duas coisas: (i) uma linguagem de formatação de texto simples, e (ii) um pedaço de software que converte o texto marcado com essa linguagem em HTML (a linguagem “de marcação” fundamental para a construção de páginas web).
Quando o Markdown foi criado pretendia-se que a sua sintaxe fosse tão legível quanto possível. Numa aplicação do tipo Microsoft Word, o utilizador clica em botões para formatar palavras e frases, e as alterações são imediatamente visíveis. Com Markdown, pode adicionar sintaxe de formatação em qualquer ficheiro de texto (por exemplo **assim**, se quiser que a palavra entre os ** seja escrita em negrito após processamento, i.e. assim).
Eis aqui uma ferramenta desenvolvida por Gruber onde pode experimentar aplicar alguma sintaxe do Markdown, como a referida do lado direito da página, ao texto que escrever na caixa Markdown Source. Não se esqueça de clicar em Convert no final, e de pedir pelo menos o Preview na opção Results.
Algumas vantagens do Markdown são:
- gratuito e open-source.
- minimalista.
- versátil, pois pode ser usado em websites, documentos, livros, apresentações ou mensagens de email.
- portável, pois ficheiros de texto .md ou .markdown contendo texto formatado com Markdown podem ser abertos por inúmeras aplicações e visualizados em tempo real ou convertidos noutros formatos, como HTML ou PDF; esses ficheiros podem simplesmente ser criados usando aplicações simples do tipo notepad.
- independente do sistema operativo.
“Sabores”
Cada editor de texto com Markdown pode implementar variantes da sintaxe ligeiramente diferentes, os chamados Markdown flavors. Cabe-lhe a si aprender através da documentação ou informação fornecida pela aplicação que escolher. Uma vez dominada a variante original, será muito fácil a adaptação a qualquer uma das outras.
Tutorial
Para aprender o básico, recomendo que começe por este tutorial interactivo. Deixo-lhe também uma lista minha sobre sintaxe e recomendações:
- # Título de nível 1
- O nº de # define o nível ou tamanho do título, podendo usar do 1 ao 6.
- Deixe uma linha em branco antes e depois de cada título.
- Deixe uma linha em branco entre parágrafos.
- Não deixe espaços em branco no início de um parágrafo.
- Para mudar de linha, termine com dois espaços em branco e pressione Enter.
- *escrever este texto em itálico* ou _escrever este texto em itálico_ = escrever este texto em itálico.
- **escrever este texto em negrito** = escrever este texto em negrito.
- Coloque > em cada linha de um bloco de citação, e deixe uma linha em branco antes e depois do bloco.
- Use 1. etc para listas ordenadas, e * ou – para não-ordenadas.
- Deixe quatro espaços em branco no início de elementos (e.g, item de uma lista, parágrafo, imagem) se os quiser localizar dentro de items de uma lista – um exemplo desse cenário é toda esta frase que acaba de ler.
- Use ` (backticks, em Inglês) no início e fim de uma expressão que deva ser formatada como código de programação.
- Use ` ` em vez de ` (dois em vez de um) se existir algum ` no meio da expressão que não quer que seja tomado como sintaxe.
- Para definir um bloco de código de programação, use ` ` ` na linha anterior e seguinte do bloco.
- Deixe uma linha em branco antes e depois do bloco.
- Use *** ou ___ para criar uma linha horizontal.
- Deixe uma linha em branco antes e depois da linha.
- Para criar um hyperlink use [Texto visível](URL “título do link – texto que aparece quando se passa com o rato sobre o mesmo”).
- Ou simplesmente coloque a URL ou endereço de email dentro de < >.
- Ex: [Wikipedia](https://www.wikipedia.org “Website da Wikipedia”).
- Para criar uma imagem use .
- Ex: .
- Para “linkar” uma imagem, defina a mesma dentro dos primeiros [] da sintaxe do link.
- Para riscar uma expressão coloque-a entre dois pares de ~~.
- Use \ antes de um caractere que não quer que seja tomado como sintaxe de formatação. Exs:
- 1989\. Ano em que a Rita nasceu (para não considerar a frase como o 1989º elemento de uma lista ordenada).
- \* Ano em que a Rita nasceu (para não criar uma lista não-ordenada).
- Username: aba\*mbres\*U (para manter os * como parte do username, i.e. aba*mbres*U, ao invés de tornar “mbres” itálico).
- Exemplo de sintaxe de uma tabela onde os conteúdos estão alinhados à esquerda na 1ª coluna, centrados na 2ª e alinhados à direita na 3ª:
| Título 1 | Título 2 | Título 3 |
| :----- | :-----: | -----: |
| conteúdo 1-1 | cont. 1-2 | cont. 1-3 |
| conteúdo 2-1 | cont. 2-2 | cont. 2-3 |Editores de texto
Recomendo a utilização de uma aplicação para computador (desktop app, em Inglês) em detrimento das aplicações web, sugerindo o popular software de código-aberto MarkText (eis a sintaxe que usa). Esta aplicação permite a utilização de interface gráfica para formatar texto, mas se quiser usar unicamente a magia Markdown pode usar a opção View > Source Code Mode no menú ☰, ou alternativamente usar o atalho CTRL+E para alternar entre a vista Source Code e a vista “final” exibida por defeito (com os elementos formatados).
Se não quiser instalar qualquer software, eis duas aplicações web que poderá aceder através do seu navegador (não se esqueça de regularmente fazer backups locais do seu trabalho): StackEdit (open-source) e Dillinger (open-source).
Pode escrever-me se precisar de ajuda para instalar ou usar qualquer produto citado neste artigo, incluindo em sistema operativo Linux.
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